quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

ORTODOXA TACIUS

 I
Quando ainda havia amores, mimos eram flores,
No festim de cores, ofertadas em teu aniversário.
O sorriso em teus lábios, sempre tão sedutores,
Contudo traidores, sinais de um mau presságio.

Paguei com meu salário, o preço dessas dores,
Eis que enamorou-se de um ordinário larápio.
Eu, sendo pardo, honesto em afetos e valores,
Era um dos perdedores, atores secundários.

Sem noivado, engravidou em teus afervores,
E entre infratores, foi teu amante encarcerado,
Culpado! Ladrão de motos, sem ares encantadores!

E todos seus temores, impuseram-se arbitrários,
No nascer precário de entristecedores lares,
Uma filha de pais vulgares, em pobreza e abandono! 

II
Demorou dois anos, teus atos de culpa e desespero,
Fiel a um companheiro, que já não lhe queria mais.
De procedimentos boçais, desprezava seus rebentos,
Ao completar seu tempo, solto foi, sem muitos festivais.

Em tuas sinas pontuais, quis cobrar-lhe o acalento,
Para teu tormento, bandido de poucos cerimoniais,
De mentalidades anormais, de arma em punho e com intento,
Um tiro na perna, deu-lhe, e fugiu com moça que o apraz.

E só em termos desiguais, lembrou-se daquele sentimento,
De um poeta negro, enlutado com os desprezos casuais,
Que já não poderia, jamais, cultuar-lhe em avivamento!     

Tal sofrimento, as fatalidades que lhe foram leais,
Carrega agora marcas reais, uma na coxa e outra no peito,
Por buscar o amor de um homem que tu mesma ensinou o desamor.  

(Por Ozzie 10/02/2021) ©Copyright


terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A SEGUNDA CLASSE

Negro é etnia marcada pela cor,
No peito a dor de infinitas marcas.
Não calam as feridas, seu clamor,
Negligente de amor, queimam suas chagas.

Fustigada raça, subjugada no terror,
Rebaixado seu valor, até chegar à nada.
Ainda hoje destronada, dita inferior,
Sob todo rigor, de cidadania secundária.

Desumanizada em seu árduo labor,
Não cessará seu dissabor, suas lágrimas,
Ninguém confortará sua mágoa, lhe será defensor!

Terá opositor, mesmo ao  lado da justiça,
Sem ação legítima, viverá o amargor,
Aceitar-se sofredor, e fazer do ódio força!


(Por Ozzie 02/02/2021) ©Copyright

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

ASSEPSIA & SANIDADE

Habitar em lar que não se limpa,
Entre alvenarias de chorosos cantos,
Invernais prantos por penosa rotina,
Árduas faxinas de meu recontro.

Outros são os pontos, além da mania,
Minhas vias de formais desencantos,
Vivo em cômodos como ermo eremita,
As dicotomias de meu ser atônito.

Meu recanto de pretensões límpidas,
Carece energia para meu conforto,
Portanto, meio morto, evoco alegrias!

Quero luz do dia, além do meu entorno,
Um lavar morno que limpe moradias,
A compleição física, mas também a alma!


 (Por Ozzie 27/01/2021) ©Copyright